A semana não começou bem. No mercado financeiro, ontem foi o dia em que as expectativas se transformaram em desesperança. Em Frankfurt, tamanho tombo no índice DAX não se via desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Em Hamburgo, não muito longe das bolsas de valores, o pretenso Dia sem Carro também não foi bem. A começar pela má divulgação, que não permitiu que muitos – inclusive eu – participassem dos eventos programados das 11 às 18 horas. Pelo contrário: desinformado, sem notar nada de diferente pela cidade, estava na carona de um Golf.
Os jornais especulam se o minguado número de participantes teria sido consequência da chuva. Já os promotores do evento afirmam o que já era esperado. Que, mesmo com pouca gente, o dia valeu a pena para despertar a atenção do público para o problemão que anda junto com os automóveis. Foi quase o mesmo que o Oded Grajew declarou em 22 de setembro, em São Paulo. O que sai dos escapamentos coloca praias do norte da Alemanha em risco de desaparecer dentro de alguns anos.
Mas o Dia Sem Carro em Hamburgo teve três diferenças marcantes com relação ao que vimos em São Paulo, no ano passado. Primeiro, o poder público tomou mesmo a dianteira da organização do evento e parte das atividades puderam ocorrer no filé da cidade, com apoio político do primeiro escalão do governo. Ok, as eleições estaduais estão chegando, mas pelo menos a vontade política para algum compromisso está manifesta. O Dia Sem Carro faz parte de um conjunto de medidas de defesa ao clima a ser implementado entre 2007 e 2012.
Segundo: o principal mote da campanha em Hamburgo foi promover a imagem do trem como meio de transporte ambientalmente correto. Como se pode depreender do slogan “Bahn frei fürs Klima”, a ênfase é não só contra o carro, mas a favor de outra coisa no lugar — no caso, o transporte de massa sobre trilhos. Nada mal para uma cidade de 1,7 milhão de habitantes que está procurando expandir seus 100 km de linha com a inauguração de uma quarta linha de metrô.
E mais: neste dia, o transporte público pôde ser usado na faixa. Graças ao envolvimento das empresas de transporte público que também em São Paulo deveriam se mostrar interessadas em atrair mais usuários para o sistema. Dessa vez foi no inverno. O próximo será na primavera, dia 20 de abril. E depois, no verão e mais adiante no outono também. Quatro vezes por ano, em um esboço de um saudável – e, esperamos, não muito utópico – futuro, em que, voluntariamente, as pessoas optem por outra forma de locomoção.
Originalmente publicado no Planeta Sustentável em 24/01/2008, às 14:40