A cidade, depois de amanhã

10 12 2008

Você já parou para pensar como será sua vida em 2050? Eu confesso que tive poucas oportunidades para me dedicar a esse assunto. Em algumas ocasiões, como entre amigos, conversamos sobre perspectivas de trabalho, sobre a crescente concentração de cabelos brancos e sobre a escalação do time de futebol no próximo campeonato. Mas no geral ficamos nos dois ou cinco anos seguintes ou, como disse, no próximo campeonato.

Há alguns meses estou envolvido na difícil missão de pensar a cidade em 2050. Como ela será? Quem está preocupado com essa pergunta é, sobretudo, o equivalente alemão do Ministério das Cidades, que convidou oito universidades para desenvolver respostas inovadoras e plausíveis.

Mas não é nada fácil se desplugar de 2008. Mesmo com incentivos para pensar livremente, freqüentemente nos vemos presos aos padrões atuais. Que tipo de moradias haverá em 2050? Televisão a cores, máquina de lavar e computador equiparam lares ocidentais nos últimos cinqüenta anos. E nos próximos anos, o que está para vir? E as escolas, como serão? Trabalharemos com quê? Onde? Serão as ruas como elas são hoje, com espaço para carros, com calçada, com faixas de pedestre? De tão amplas, as perguntas podem até parecer bobas à primeira vista. Mas são fundamentais.

Por acaso, caí em um grupo de trabalho que investiu tempo para desenvolver a visão do sistema de transporte do futuro. Nem trem-bala cruzando um corredor de arranha-céus em questao de segundos, nem minijatos atravessando o céu urbano, como no desenho animado. No futuro embarcaremos em um sistema modular, flexível e integrado, que poderá transportar tanto pessoas como mercadorias. Carros existirão, mas terão o uso rigorosamente restrito, por serem pouco eficientes no uso da área urbana e de recursos energéticos. No entanto, como demandas individuais e urgentes sempre aparecem, uma vertente do sistema terá de funcionar como táxi também.

Inspirados por essa fase criativa, estamos empenhados em aplicar parte dessas idéias no contexto concreto de uma cidade de verdade. A idéia é apresentar os resultados do trabalho em fevereiro, em Berlim, e no mês seguinte lancar uma publicação. O fato de o Estado promover essa iniciativa é bastante significativo. Mas, mesmo no Brasil, onde a gestão de problemas urgentes atropela diversas iniciativas de planejamento de prazo mais alargado, fiquemos atentos: nesta semana, acontece o Urban Age em São Paulo. Esperamos que os renomados especialistas – que vão de Saskia Sassen a Aldaiza Sposati – tenham tempo para fugir dos lugares-comuns e projetar algumas soluções para o futuro de nossas cidades.

Acima, a visão de Le Corbusier, um dos mais influentes arquitetos do século XX, para o centro de uma cidade moderna. Brasília, patrimônio cultural da humanidade desde 1987 conforme a Unesco, é fruto direto da crença na racionalidade e da estrita separação espacial das funções urbanas básicas.

Originalmente publicado no Planeta Sustentável em 04/12/2008, às 13:15


Ações

Information

Deixe um comentário