O Dia Sem Carro funciona?

24 10 2010

O Dia Mundial Sem Carro foi comemorado em várias partes do mundo, marcando o início da primavera. Em São Paulo, ficou de novo a desejar. Nenhuma rua fechada, iniciativas desconhecidas pela grande maioria, trânsito como sempre. Mas pelo menos o Dia foi antecedido por uma Semana da Mobilidade bastante completa. Desta vez, foi difícil escolher o que fazer e o que ter de deixar de lado, por falta de tempo.

Sexta-feira foi o dia de um debate sensacional com Nabil Bonduki e Paula Santoro sobre políticas urbanas. Quem foi sabe por que os dois merecem ser chamados de especialistas e o tamanho da preocupação que devemos ter daqui a dez dias: nenhum candidato a presidência apresentou um plano de governo, abarcando com o mínimo detalhamento necessário as questões referentes à política urbana.

No sábado, fui ver o que as Pedalinas tinham a falar. Bom saber que está cada vez maior o coletivo de mulheres que se encontram para pedalar e conversar sobre bicicleta. Nesse “Clube da Luluzinha” sobre duas rodas, é discutido aquilo que só é vivido por moças e mulheres nas violentas e às vezes machistas ruas de São Paulo. Se eu fosse mulher, iria ver como é…

Depois assisti, na Matilha Cultural, a uma série de curta-metragens brasileiros que colocam a bike no centro das histórias. O audiovisual é um meio fenomenal para transportar histórias, dramas, mensagens políticas, desabafos e principalmente a poesia de quem recebe a cidade sobre a magrela. Ainda que algumas obras sejam excessivamente arrastadas ou parciais, deveria-se abrir um canal na internet dedicado a essas produções.

Segunda-feira foi o dia de debater as diretrizes de um plano municipal de transportes sustentáveis. O chamado foi feito pelo Nossa São Paulo, movimento liderado por Oded Grajew. Mas o irrisório público demonstrou mais uma vez que o paulistano, embora diga se preocupar com os problemas de transporte, continua perdendo importantes oportunidades de debater o tema e fortalecer iniciativas que poderiam contribuir para mudar a situação. O movimento refuta monotrilho em áreas com demanda para metrô, perde a paciência com o modo pelo qual a prefeitura se esquiva do diálogo com a sociedade, mas refuga quando o assunto é restringir o uso excessivo de automóveis por meio de medidas mais duras, como o pedágio urbano.

Se, por um lado, a última Semana da Mobilidade desta década nos trouxe uma série de promissoras iniciativas, por outro deixou claro o quanto governo e sociedade ainda não fazem suas partes. A mídia até deu destaque para um ou outro evento do Dia Sem Carro. Mas de uma participação maciça da população pela qualidade de vida na cidade não se pode falar. O Dia Sem Carro continua ignorado pelo paulistano e, nesse sentido, questiono: Deve-se continuar a organizar o Dia Sem Carro dessa forma? Ou melhor esquecê-lo e deixar São Paulo seguir em seu próprio ritmo, torcendo para que uma positiva mudança aconteça antes de qualquer colapso? Às vezes penso que minha cidade merece mais essa última opção e esperar que o caos surja como força motriz de uma transformadora mobilização…

Originalmente publicado no Planeta Sustentável em 24/09/2010, às 01:06


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