A biblioteca da cidade brasileira

18 11 2008

Manter-se informado pela imprensa ou pela internet é bom. Mas nada melhor do que um bom livro para se entreter, entender e refletir, é ou não é? Escrevo aqui uma incompleta e provisória lista de livros publicados recentemente que me ajudou bastante a entender melhor por que nossas cidades são o que são e o próprio significado de planejamento urbano no Brasil. Espero que sejam de utilidade para quem visita esse blog também.

E antes que me critiquem, um comentário. Escrevo essa lista com dor no coração, já que diversos outros livros nem tão recentes assim, como os da Ermínia Maricato e do Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro também são de tirar o fôlego.

  • Como leitura básica, minha sugestão é o livreto “São Paulo”, que faz parte da coleção “Folha explica”. Compacto, fácil de entender e bem escrito pela arquiteta urbanista Raquel Rolnik. A obra reconstrói a cidade a partir dos fatos mais importantes de sua história. O último capítulo se dedica aos desafios da metrópole no século 21 e sintetiza: “não há ‘problema’ urbano ou marca urbanística na cidade que não esteja intimamente associado a um modo de governar”.
  • É difícil encontrar um livro sobre a história do planejamento urbano no Brasil. Mas uma contribuição é oferecida pelo professor da USP Flávio Villaça, que mostra como as intervenções e os planos para a cidade — ora discutidos, ora decretados — estiveram e estão atrelados a ideologias e a interesses elitistas. O texto faz parte do livro “O processo de urbanização no Brasil”, organizado por Csaba Déak e Sueli Schiffer e publicado em 2004. Boa leitura para quem procura uma explicação de por que os planos diretores no Brasil não são respeitados.
  • Um inteligente contraponto à visão de autores que se julgam “de esquerda” nos dá Marcelo Lopes de Souza em “Mudar a cidade”, livro publicado em 2002. O professor da UFRJ — que, inclusive, já esteve na Alemanha estudando geografia — coloca pingos em vários “i”s. Explica as diferenças e as conexões entre planejamento e gestão urbana, entre plano diretor e zoneamento, entre planejamento urbano e urbanismo… E de quebra nos presenteia com uma diferenciada e ainda pouco conhecida visão do papel do planejador e gestor urbano.
  • É um livro extenso e cheio de mapas coloridos impressos em bom papel. Mapas até demais, para dizer a verdade. “São Paulo Metrópole”, do trio Regina Meyer, Marta Grostein e Ciro Biderman, é uma publicação que mereceria atualização regular, digamos a cada dez anos. A tese central defendida no livro é a de que Sâo Paulo não seria nem cidade, nem metrópole, mas uma “cidade metropolitana”. As últimas páginas do livro trazem fotos aéreas de determinadas regiões da cidade — fotos essas que, de fato, valem por mil palavras. Devem valer o preço caro do livro editado pela Edusp em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
  • Uma proposta diferente é a do livro “Reinvente seu bairro”, do urbanista Cândido Malta Campos Filho, cuja primeira edição é de 2003. Recheado de simpáticos desenhos e escrito em linguagem acessível, o livro cumpre a função didática de explicar a leigos como a cidade poderia ser melhor e o que ainda é possível fazermos. Pode ser, nesse sentido, um importante instrumento de empowerment, para que as pessoas possam entender melhor o que acontece nos lugares onde vivem. O professor, também autor de “Cidades brasileiras: seu controle ou o caos” aposta abertamente no combate ao analfabetismo urbano como forma de melhorar a qualidade de vida nas cidades.

Trabalhar, cuidar da casa, dar atenção e participar da família, pegar fila no banco, ficar preso no congestionamento… Sei que nossa vida é uma correria, não sobra tempo para quase nada. Mas essas leituras — acredite em mim — valem muito a pena!


“O Estado de S. Paulo” de hoje traz uma entrevista bastante estranha (ainda não descobri onde o que há de especial nela; alguém me ajuda?) que toca no assunto pedágio urbano. Por isso recomendo: melhor ler livro…

Originalmente publicado no Planeta Sustentável em 13/11/2008, às 17:09