Por motivo de espaço, não consegui concluir a retrospectiva que comecei na semana passada. Mas achei que valeria a pena continuá-la. Além de refrescar nossa memória, é um bom ponto de partida para entender o que há de bom e de nem tão bom acontecendo em São Paulo. Seguimos de julho a dezembro:
Julho
Flanelinha legal. No Distrito Federal, a profissão dos lavadores e guardadores de carros foi regulamentada. A proposta consiste em cadastrar os trabalhadores e qualificá-los. O motorista identifica os flanelinhas adequados à legislação pelos coletes verdes, entregues aos que cumprem todas as exigências. O que seria sustentável: definir a situação dos flanelinhas em outras cidades. Lugar de malandro não é na rua.
Mototáxi em São Paulo. Para fugir do trânsito, uma opção clandestina e perigosa ganha espaço no trânsito da capital. “Você escolhe se quer mais ou se quer menos rápido. De qualquer forma, vai ser mais rápido do que de carro”, justifica um mototaxista para a reportagem da “Folha de S. Paulo”. O que seria sustentável: coibir as formas de clandestinidade, em especial as que equivalem a um convite para um suicídio.
Ônibus a hidrogênio. Anunciado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento que o ônibus iniciaria a operação comercial no corredor São Mateus-Jabaquara em agosto. Silencioso e ecológico, mas ainda relativamente caro. O que seria sustentável: avaliar a eficiência do ônibus a hidrogênio e definir uma estratégia para dar escala a meios de transporte movidos com tecnologias limpas e renováveis.
Fretados: Logo que o prefeito anunciou que os fretados seriam a bola da vez, recebeu a oposição de usuários, empresários do setor e prefeitos de municípios vizinhos. A restrição entrou em vigor no dia 27. O que seria sustentável: restrições desse tipo são de óbvio âmbito metropolitano. Em São Paulo, quase tudo foi tratado dentro da Prefeitura.
Agosto
Trem-bala. Começa a ser mais debatido e também criticado o projeto de conectar São Paulo e Rio de Janeiro por trens de alta velocidade. Mas a qual custo? Em quanto tempo? Com qual tecnologia? Superará o projeto os “obstáculos” ambientais? Até agora todas essas perguntas aguardam respostas. O que seria sustentável: ensinar o governo federal a tomar decisões estratégicas relativas ao modo e à fonte de energia no âmbito de um plano de transporte de longas distâncias. Será que o pessoal em Brasília um dia aprende?
Setembro
Corrupção urbanística. Seis servidores da Prefeitura são acusados de liberar ilegalmente alvarás de construção a empreiteiras. O Ministério Público Estadual investiga o caso – certamente longe de ser o único em São Paulo.
Ônibus mais caro em 2010. A Prefeitura estava injetando dinheiro público demais nas companhias de ônibus e o prefeito optou, desta vez, pelo reajuste. O tamanho do aumento só ficou claro mais tarde: de R$ 2,30 a R$ 2,70. O que seria sustentável: evitar o uso político da tarifa de ônibus (segura em ano eleitoral e dispara quando o prefeito quer).
Ranking do Ministério. O governo federal começa a publicar um ranking dos carros poluidores. Um importante primeiro passo para dar mais transparência ao assunto. O que seria sustentável: maior severidade para a obtenção de informações junto à indústria automobilística.
Outubro
Zona Azul mais cara. Assim que o aumento de R$ 1,80 para R$ 3 foi anunciado, os talões sumiram. Postos oficiais de revenda cobravam ilegalmente ágio das folhas antigas. Uma sindicância também apontou irregularidades na logística de distribuição e venda das folhas.
Lotação. Metrô registrou movimento recorde de 3.633.883 usuários no dia 9 de outubro. Dias antes, o Metrô havia tentado liberar aos poucos o acesso à plataforma de embarque na estação da Sé.
Cadê a prioridade? Citando o jornal “O Estado de S. Paulo”: “Apesar de liberar R$ 20 bilhões para o plano de expansão na área de transportes, a gestão José Serra (PSDB) deve chegar ao fim sem entregar por completo nenhum dos três corredores de ônibus previstos para a Região Metropolitana de São Paulo.”
Dois novos terminais. É a promessa do Prefeito: mais dois terminais rodoviários, um na zona leste e outro na oeste, devem começar a ser construídos em 2011. Os terminais devem ser integrados a estações de metrô. O que seria sustentável: aproveitar a oportunidade para alavancar o desenvolvimento nos arredores de onde serão instalados os terminais e pensar em formas combinadas de promover o transporte sustentável.
Nova Marginal. As primeiras pistas são abertas ao trânsito. A obra é o mais forte ícone de descaso ao meio ambiente em 2009.
Dezembro
Taxi Amigão. Com iniciativa da Prefeitura, viagens são 30% mais baratas nas noites de sexta, sábado e domingo com os taxistas que se cadastram voluntariamente.
Gargalo aéreo. Os aeroportos das cidades que sediarão jogos da Copa de 2014 já operam no limite.
Originalmente publicado no Planeta Sustentável em 28/01/2010, às 11:48