No último post, desejei um Feliz Natal, mas deixei de desejar um Feliz Ano Novo. Desculpem, falha de memória e falta de esperança de minha parte. Poderia eu ter sido menos pessimista após ler, dias antes do reveillón, os resultados da nova pesquisa de imagem do transporte público na Regiao Metropolitana de São Paulo?
Dificilmente. Quem mora na metropole paulistana está cada vez mais incontente com o transporte público, destaca a última pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos. Na opinião dos 2.300 entrevistados, o metrô continua sendo o melhor meio de transporte, mas pela primeira vez a porcentagem de satisfeitos com o serviço ficou abaixo da marca de 90%. O que provocou mais descontentamento? Anos seguidos de trens superlotados nos horários de pico, a expansão em ritmo de tartaruga em uma cidade do tamanho de um mamute ou a superexposição na mídia dos erros de engenharia que provocaram um grande acidente em janeiro de 2007?
A pesquisa não diz. Mas, seja o que for, o atual índice de satisfação com o metrô (85%) ainda é duas vezes maior do que o dos ônibus municipais (42%). Os investimentos na renovação da frota realizados durante a gestão do prefeito Gilberto Kassab não conseguiram conter a crescente insatisfação dos usuários com o serviço. A porcentagem de ótimo/bom dos ônibus cai ano após ano, como mostra a tabela acima. O que significa que já passou da hora de introduzir melhorias estruturais no sistema (racionalização das linhas, melhor nível de conforto, mais segurança na viagem, etc.) É angustiante ter de constatar que justamente o meio de transporte que atende a maioria da população é o pior avaliado.
Os trens da CPTM e o serviço de ônibus intermunicipal agradam apenas a metade dos entrevistados. Em 2005, os principais motivos de queixa de quem viajava sobre os 270 km dos trilhos metropolitanos eram: “passageiros mal educados/abusados (69%), trem sempre lotado (66%), trem sujo e mal conservado (63%)”. Não é uma minoria que reclama das condições dos trens, mas um número bastante expressivo de seus usuários.
A pior avaliação do transporte público não sinaliza apenas que muito pode ser feito pelos meios coletivos. Em tempos de queda do desemprego e melhoria do nível de renda da populacao, esta má avaliação significa, mais cedo ou mais tarde, mais carros na rua. E, por conseqüência, mais congestionamentos, acidentes e poluição. De todo esse quadro, minha mágoa, minha aflição e, novamente, minhas desculpas.
Mas, para começar 2008 direito, vou pular sete ondinhas pensando em mobilidade urbana. O que desejo à nossa metrópole na virada do ano é o seguinte:
- Levar a sério o planejamento em transportes: participação da sociedade, embasamento de propostas com estudos confiáveis, cumprimento à risca dos planos pelo poder público
- Proteger a vida é o objetivo maior. Nas ruas, prioridade aos pedestres, aos ciclistas e aos usuários de transporte coletivo (nesta ordem, como manda o código de trânsito, aliás)
- Calçada esburacada é uma agressão à cidadania (e, principalmente, a idosos e portadores de deficiências físicas). Criar um mecanismo eficiente para a rápida adequação das calçadas da cidade.
- Melhorar o acesso à informação sobre mobilidade urbana, já que este é um dos mais graves problemas de São Paulo. Obrigar órgãos públicos, agências e empresas de transporte a publicar dados regularmente e prestar contas à população.
- Menor tolerância com os veículos mais poluidores: questão de saúde pública
- Linhas de ônibus mais racionais
- Implantação de projetos de transporte urbano/interurbano como catalisadores do desenvolvimento local
A lista poderia continuar, mas só são sete ondinhas, né? Um feliz 2008 a todos nós!
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Em tempo: a mesma ANTP programou para 14 de fevereiro o evento “São Paulo combatendo o congestionamento: pedágio urbano e outras medidas”. Lamentavelmente, entrar no evento custa R$ 130, preço que faz da participação em um debate importante para nossa cidade praticamente um luxo. Estarão em pauta o nosso velho (e, ao mesmo tempo, pouco) conhecido rodízio de veículos, a viabilidade de introdução do pedágio urbano em São Paulo e experiências internacionais.
Originalmente publicado no Planeta Sustentável em 10/01/2008, às 16:56